Paradígma - A história da matemática no Ensino Básico
Paradígma
versión impresa ISSN 1011-2251
Paradígma v.26 n.2 Maracay dic. 2005
A
história da matemática como recurso didático para o ensino da teoria
dos números e a aprendizagem da matemática no ensino básico
Claudia Lisete Oliveira Groenwald, Lisandra de Oliveira Sauer, Rosvita Fuelber Franke
Claudia Lisete Oliveira Groenwald: Doutora
em Ciências da Educação pela Universidade Pontifícia de Salamanca –
Espanha. Professora Titular da Faculdade de Matemática da Universidade
Luterana do Brasil - ULBRA - Canoas/RS. claudiag@ulbra.br
Lisandra de Oliveira Sauer: Mestre
em Matemática pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Professora Adjunta da Faculdade de Matemática da Universidade Luterana
do Brasil. Canoas/RS. sauer@portoweb.com.br
Rosvita Fuelber Franke: Mestre
em Matemática pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Professora Adjunta da Faculdade de Matemática da Universidade Luterana
do Brasil. Canoas/RS.
Resumo
Este
trabalho trata da importância didática da História da Matemática no
processo de ensino e aprendizagem e apresenta três exemplos da
utilização da Teoria dos Números relacionada à História da Matemática e à
resolução de problemas.
Palavras Chave: História da Matemática, Teoria dos Números, Resolução de Problemas.
Abstract
This
work deals with the didatic importance of the History of Mathematics in
the teaching learning process. It also presents three examples of usage
of the Number Theory related to the History of Mathematics and
resolution of problems.
Key-words: History of Mathematics, Number Theory, Resolution of problems.
Recibido: 22/06/2005 Aceptado: 25/10/2005
Introdução
O
enorme desenvolvimento da Matemática nas últimas décadas não impediu
que crescessem as dificuldades em ensinar os conteúdos matemáticos. Um
dos problemas apresentados pelos alunos está em aplicar os conceitos de
aritmética, nos tópicos de divisibilidade, máximo divisor comum e
congruência com números inteiros.
Entre
os obstáculos encontrados pelos professores de Matemática na
transposição didática dos conceitos citados, e que são importantes para o
desenvolvimento do pensamento aritmético, podemos destacar a falta de
modelos, pois cada problema se resolve de um modo, além disso, é muito
raro encontrar atividades didáticas aplicáveis no Ensino Básico.
Para
Lins e Gimenez (1997) a aritmética escolar propõe um sentido integrador
que permite resolver problemas diversos, assim as técnicas e regras
deveriam servir para solucionar problemas.
As
atividades didáticas envolvendo a resolução de problemas podem ser
desenvolvidas de forma a estimular nos alunos o interesse pela
Matemática, aprimorando o raciocínio lógico e ampliando a compreensão
dos conceitos básicos para o refinamento do pensamento aritmético,
fazendo com que os mesmos desenvolvam a capacidade de manipular
conceitos e propriedades de forma clara e objetiva.
Com
o objetivo de estudar os conceitos elementares da Teoria dos Números,
analisando o processo de ensino e aprendizagem de tópicos importantes
que devem ser desenvolvidos no Ensino Básico, foram investigados os
seguintes itens: Números Inteiros, Divisibilidade, Máximo Divisor Comum e
Congruência de Números Inteiros.
A
metodologia de ensino escolhida para o desenvolvimento das atividades
com a Teoria dos Números foi a utilização da história como recurso
didático associado a resolução de problemas.
A História da Matemática como recurso didático
A
História da Matemática pode ser um potente auxiliar no processo de
ensino e aprendizagem, com a finalidade de manifestar de forma peculiar
as idéias matemáticas, situar temporalmente e espacialmente as grandes
idéias e problemas, junto com suas motivações e precedentes históricos e
ainda enxergar os problemas do passado, bem como encontrar soluções
para problemas abertos.
Mendes
(2001) afirma que o conhecimento provém de diferentes grupos
sócio-culturais que se organizaram e se desenvolveram intelectualmente
de acordo com suas necessidades, interesses e condições de
sobrevivência, levados pela mobilidade característica da sociedade
humana e que a informação histórica pode contribuir para a disseminação
desse conhecimento.
A
História da Matemática é considerada um tema importante na formação do
aluno. Ela proporciona ao estudante a noção exata dessa ciência em
construção, com erros e acertos e sem verdades universais, contrariando a
idéia positivista de uma ciência universal e com verdades absolutas. A
História da Matemática tem este grande valor, de poder contextualizar o
saber, mostrar que seus conceitos são frutos de uma época histórica,
dentro de um contexto social e político.
Para
Valdés (2002), Se estabelecermos um laço entre o aluno, a época e o
personagem relacionado com os conceitos estudados, se conhecerem as
motivações e dúvidas que tiveram os sábios da época, então ele poderá
compreender como foi descoberto e justificado um problema, um corpo de
conceitos, etc..
Essa
visão da Matemática faz com que ela seja vista pelo estudante como um
saber significativo, que foi e é construído pelo homem para responder
suas dúvidas na leitura do mundo, permitindo ao aluno apropriar-se desse
saber, o que lhe propiciará uma melhor leitura do contexto global.
Segundo Ozámiz (1993) a história da Matemática, como recurso didático, visa atingir os seguintes objetivos:
- mostrar que o processo do descobrimento matemático é algo vivo e em desenvolvimento;
- aceitar o significado dos objetos matemáticos em seu triplo significado: institucional, pessoal e temporal;
- estabelecer distinções entre uma prova, uma argumentação e uma demonstração dos conceitos matemáticos, bem como saber dosá-las de maneira equilibrada no currículo escolar;
- destacar a importância da aplicação de provas para os alunos, porém provas que contribuam ao conhecimento e não somente para testar decorebas.
Klein
apud Tahan (1984) afirma que: O professor que ensina a Matemática
desligada de sua parte histórica, comete verdadeiro atentado contra a
ciência e contra a cultura em geral. É nesse sentido que tem crescido
cada vez mais o interesse pela História da Matemática em relação ao
ensino, não somente como uma ferramenta didática, mas também como campo
de investigação.
Um
certo conhecimento de História da Matemática, deveria ser parte
indispensável da bagagem de conhecimentos de qualquer matemático em
geral e do professor de todos os níveis. Isso, não somente com a
intenção de utilizá-la como um instrumento em seu ensino, mas
principalmente por que a História pode proporcionar uma visão
verdadeiramente humana da Matemática, o que é difícil de se imaginar,
pois a imagem que os alunos possuem dessa disciplina está totalmente
desvinculada da realidade (Guzmán, 1993).
Uma
visão mais profunda da História permite ao professor evoluir em seu
trabalho educativo, pois lhe possibilita visualizar melhor o futuro, ou
seja, de enxergar antes o que pode acontecer, as dúvidas que podem
surgir. Além disso, permite que ele descubra as dificuldades do passado,
comprovando os caminhos da invenção, com a percepção da ambigüidade e
confusões iniciais.
Valdés
(2002) nos chama a atenção para: O valor do conhecimento histórico não
consiste em ter uma bateria de histórias e anedotas curiosas para
entreter os alunos, a história pode e deve ser utilizada, para entender e
fazer compreender uma idéia mais difícil e complexa de modo mais
adequado.
Para
Nobre (1999) a utilização da História da Matemática no contexto
didático não deve se restringir à sua utilização como elemento de
motivação ao desenvolvimento do conteúdo, pois sua amplitude extrapola o
campo da motivação.
Baseados
nesses princípios, justificamos a utilização da História como um
recurso metodológico capaz de auxiliar no processo de construção do
conhecimento.
Teoria dos Números no decorrer da história
A
Teoria dos Números é a ciência que tem por objetivo principal estudar
as propriedades e relações entre os Números Inteiros. Essa teoria
aparece como ferramenta em diversas áreas da Matemática, tais como:
Probabilidade, Álgebra, Sistemas Dinâmicos, etc., servindo de alicerce
para resultados significativos.
É
na Grécia que inicialmente identificamos a Teoria dos Números tal como a
entendemos hoje. Foram os pitagóricos que estudaram as relações entre
números do ponto de vista do que hoje denominamos Teoria dos Números (Figura 1).

Figura 1. Relações entre os números segundo os pitagóricos
A
Aritmética era o estudo das propriedades fundamentais dos Números
Inteiros, domínio dos matemáticos e filósofos da época. A Logística era a
arte de calcular com Números Inteiros, domínio dos comerciantes e
profissionais da época e é o que chamamos de Aritmética nos dias de
hoje.
Entre os problemas da Teoria dos Números abordados pelos gregos antigos estão:
- cálculo do máximo divisor comum entre dois números;
- a determinação dos números primos menores que um inteiro dado;
- a demonstração de que há uma infinidade de números primos.
Entre
os principais estudiosos dessa teoria podemos citar Euclides de
Alexandria (330 -275 a.C), geômetra grego, professor de Matemática a
convite do então imperador da parte egípcia da Grécia Antiga: Ptolomeu
I. Ele organizou a obra monumental Os Elementos, composta de 13
livros. Os livros VII, VIII e IX estão dedicados à Teoria dos Números.
Os conceitos numéricos estão expressos em uma linguagem geométrica.
Euclides se refere a um número como um segmento
, utilizando expressões do tipo mede A ou está medido por no lugar de é divisor de ou é múltiplo de.

Vários
outros matemáticos gregos estudaram problemas da Teoria dos Números.
Desses o mais importante foi sem dúvida Diofanto. Sua Aritmética,
escrita por volta de 250 d.C., trata principalmente da solução de
equações indeterminadas com coeficientes inteiros.
Embora
a Matemática tenha sido intensamente estudada por outros autores
gregos, e, posteriormente, por árabes, indianos e europeus, a Teoria dos
Números caiu em esquecimento até o século XVII.
Bachet,
em 1612, publicou o texto original em grego da Aritmética de Diofanto,
incluindo uma tradução latina, que era a língua usada pelos eruditos
europeus da época.
Entre
1621 e 1636, o francês Pierre de Fermat, magistrado da corte de
Toulouse, adquiriu uma cópia desse livro. Fermat leu o texto de
Diofanto, anotando na margem as idéias que lhe ocorriam. Isso marcou o
início de seu interesse pela Teoria dos Números, que posteriormente,
expressou uma torrente de resultados importantes.
Fermat
nasceu em 1601, e era um magistrado por profissão, não um matemático.
Na verdade, poucas pessoas exerciam a Matemática como profissão naquela
época. A comunicação entre os matemáticos também era precária, não
havia revistas especializadas. A comunicação era conduzida,
principalmente, através de cartas e por algumas pessoas que serviam de
centros difusores dos novos resultados. A primeira revista dedicada à
Matemática só foi criada em 1794.
O
mais famoso divulgador dos resultados obtidos na Matemática foi o
frade francês Marin Mersenne. Muito amigo de alguns dos maiores
matemáticos da época, como Descartes, Pascal e o próprio Fermat,
Mersenne logo comunicava a toda a República de Letras as novidades
matemáticas que chegavam ao seu conhecimento.
Foi
na forma de cartas enviadas a Mersenne e a outros matemáticos
contemporâneos que boa parte da obra de Fermat ficou conhecida. Depois
de sua morte, em 1665, coube a Samuel Fermat, seu filho, coletar e
publicar a obra de seu pai, dispersa em cartas e anotações. Ele começou
com a publicação da Aritmética de Diofanto, incluindo todas as anotações
feitas por Fermat à margem da sua cópia. Dessas anotações, a mais
famosa é o chamado Último Teorema de Fermat: Não existe solução não
nula, para a equação
, onde
e x, y e z números inteiros. Esse resultado só foi provado em 1995 pelo
inglês Andrew Wiles, mais de 300 anos após ser enunciado por Fermat.


O
sucessor de Fermat foi o suíço Leonhard Euler, que nasceu em 1707,
quarenta e dois anos após o falecimento de Fermat. Euler publicou uma
obra matemática imensa, tendo contribuído para quase todas as áreas da
Matemática pura e aplicada existentes no século XVIII. Ele não foi
professor de nenhuma universidade, mas esteve ligado a academias
científicas na Alemanha e na Rússia. Essas academias eram, na verdade,
instituições de pesquisa, cujas atas publicavam, primordialmente, as
contribuições científicas de seus membros.
O
interesse de Euler pela Teoria dos Números teve início em sua
correspondência com Christian Goldbach, foi através dele que Euler
chegou à obra de Fermat. Em sua primeira carta a Euler, em 1729,
Goldbach acrescenta o seguinte Post scriptum: Você conhece a observação de Fermat de que todos os números
são primos? Ele disse que não sabia prová-la; nem ninguém conseguiu fazê-la, que eu tenha conhecimento.

Euler
reagiu com ceticismo e não demonstrou muito interesse, mas Goldbach não
desistiu e voltou a abordar o assunto. Em 1730, Euler começou,
finalmente, a ler a obra de Fermat. Nos anos seguintes ele provaria e
estenderia grande parte dos resultados enunciados por Fermat,
resolvendo, inclusive, a questão proposta por Goldbach.
Através de seus trabalhos Euler popularizou a Teoria dos Números, como Fermat não havia conseguido.
Podemos destacar, dos estudos de Goldbach, a famosa conjectura que afirma: Todo número par maior que 2 pode ser decomposto na soma de dois números primos. Esse resultado não foi provado até os dias de hoje.
Porém o desenvolvimento sistemático da Teoria dos Números somente iniciou com a obra Disquisitiones arithmeticae, do alemão C. F. Gauss, publicada em 1801.
Objetivos
A
investigação teve como objetivo geral desenvolver atividades didáticas
envolvendo a Teoria dos Números, analisando o processo de ensino e
aprendizagem de conceitos importantes que devem ser desenvolvidos no
Ensino Básico, permitindo aos estudantes o refinamento do pensamento
aritmético.
Os
objetivos específicos foram: investigar a importância didática da
História da Matemática na Teoria dos Números no processo de ensino e
aprendizagem da Matemática; pesquisar atividades e recursos que permitam
ao aluno conjeturar, comparar e estabelecer estratégias mentais na
resolução de situações problemas de outras áreas do conhecimento
relacionando-os à Teoria dos Números.
Metodologia da pesquisa
Optou-se
pela abordagem qualitativa, entendendo que nessa perspectiva é possível
uma análise mais detalhada da situação pesquisada, possibilitando
conhecer e entender as circunstâncias particulares em que o objeto do
estudo se insere.
Esse
trabalho foi desenvolvido em duas etapas: estudo aprofundado dos
conceitos da Teoria dos Números desenvolvidos no Ensino básico e
implementação de um experimento de ensino.
A
primeira etapa, para atender aos objetivos propostos, se constituiu em
um estudo detalhado da Teoria dos Números e de como desenvolver
atividades didáticas, utilizando a história como recurso didático
associado a resolução de problemas. Essa fase foi desenvolvida com
reuniões semanais para discussão do trabalho a ser desenvolvido com todo
o grupo de pesquisa e com a realização de seminários trimestrais para
apresentação do material pesquisado a comunidade acadêmica do curso de
Matemática, da Universidade Luterana do Brasil, buscando levantar a
discussão para o assunto pesquisado.
Na
segunda fase foi aplicado um experimento de ensino, com as atividades
pesquisadas na primeira fase. O experimento de ensino buscou criar um
espaço de discussão, onde os alunos trabalhando em pequenos grupos,
pudessem refletir e buscar soluções para os problemas apresentados e o
professor, através da análise das conjecturas levantadas pelos alunos,
os auxiliasse a alcançarem sucesso no desenvolvimento do trabalho
proposto.
Os
participantes, dessa etapa, foram 12 alunos do início do curso de
Licenciatura em Matemática da Universidade Luterana do Brasil, do
município de Canoas do estado do Rio Grande do Sul. A aplicação do
experimento de ensino foi realizada em cinco terças feiras dos meses de
setembro e outubro de 2004, com duração de 4 horas aulas, em cada dia.
Os
dados foram coletados através da observação participativa, registrando
os eventos. Posteriormente os dados foram descritos e analisados
conforme as categorias, relativas aos alunos que participaram do
experimento didático: motivação para a realização das atividades;
conhecimento teórico necessário e capacidade de relaciona-los;
capacidade de trabalho em grupo; análise das possibilidades de
utilização das atividades, quando professores, no Ensino Básico.
Exemplos da utilização da Teoria dos Números no processo de ensino e aprendizagem da Matemática
Associar
a História da Matemática à metodologia resolução de problemas é um
forte aliado para desenvolver, no estudante, a capacidade de lidar com
situações novas de forma criativa e independente.
Com
o objetivo de que a Teoria dos Números ganhe espaço nos currículos
escolares do Ensino Básico apresentaremos três aplicações de sua
utilização, que foram desenvolvidas no experimento de ensino com alunos
de licenciatura em Matemática.
Máximo Divisor Comum entre dois números (mdc)
Como já comentamos, o universo de Euclides era geométrico. Ele descreveu em um dos volumes dos Elementos
o conhecido Algoritmo de Euclides, ou algoritmo das divisões
sucessivas, para determinação do máximo divisor comum (mdc) entre
números inteiros.
O algoritmo das divisões sucessivas afirma que: considerando a e b inteiros, tais que
e
, existem e são únicos os inteiros
e
, tais que
, onde
.






Se
, então
, ou seja, a é múltiplo de b. Logo,
. Se
, então.
Daí, para b e
existem
e
, tais que
, onde
.










Se
, então b =
, ou seja, b é múltiplo de
. Logo, o
. Se
, repetimos o processo até encontrarmos um resto
, tal qu
.







Logo, o mdc (a,b) =
.

Esse algoritmo pode ser sintetizado no seguinte dispositivo:

Figura 2. mdc entre a e b
A
seguir, apresentaremos uma aplicação geométrica desse dispositivo,
através do exemplo do cálculo do mdc entre os números inteiros 6 e 9.
Começamos
construindo um retângulo com lados medindo 9u.c. e 6u.c. e traçamos
quadrados, tantos quanto possíveis, medindo 6u.c. (Figura 3) cada lado, contidos no retângulo inicial.

Figura 3. retângulo de lados 9 e 6
Obtemos um quadrado de lado 6u.c. e um retângulo de lados 3u.c. e 6u.c., isto é:

Como o resto não é zero, repetimos o processo para 6 e 3, agora construíndo um retângulo de lados 6u.c. e 3u.c (figura 4).

Figura 4. retângulo de lados 6 e 3
Obtemos dois quadrados com lados 3u.c., ou seja,
. Como o resto é 0, então o
, logo o
.Podemos comparar o processo da obtenção geométrica do mdc com o processo aritmético.




Pelo algoritmo de Euclides temos: 9=6.1+3 e 6 = 3.2 + 0, logo o mdc (9,6) é 3.
Congruência com Números Inteiros
A
congruência de Números Inteiros é uma poderosa ferramenta para
resolvermos problemas relacionados à divisão em quaisquer níveis.
Podemos
definir a congruência módulo m, como: dados a e b números inteiros e m
um número inteiro positivo fixo, dizemos que a é congruente a b módulo m
se, e somente se m divide a diferença a – b, ou seja, a – b é múltiplo
de m.
Notação: a=b(mod m)
.

Podemos exemplificar com:
.

No Ensino Básico podemos nos referir à congruência como restos da divisão de a e b por m.
Podemos
apresentar como exemplo de atividade para alunos de 11 anos, o
seguinte problema: Uma camponesa levava uma cesta de ovos. Ao
perguntar-lhe quantos ovos levava, respondeu: São menos de 100. Se os
divido de 2 em 2, sobra 1; se os divido de 3 em 3 me sobram 2; dividindo
de 4 em 4 me sobram 3; de 5 em 5 sobram 4. Quantos ovos ela levava?
A
solução teórica do problema pode ser realizada pela análise das
congruências. Porém, como se trata de alunos de 11 anos, a solução deve
ser realizada com o enfoque da divisibilidade dos números inteiros.
Organizando uma tabela de números de 1 a 100, podemos eliminar os números que não satisfazem as condições.
Primeiro, o número não é divisível por 2, logo, podemos eliminar todos os números pares.

Segundo, o número desejado não é divisível por 3, logo, eliminamos os múltiplos de 3.

Terceiro, o número procurado não é múltiplo de 5, logo, eliminamos os múltiplos de 5.

Os
números restantes são os que ao serem divididos por 5 deixam resto 1,
2, 3 e 4. Então, eliminamos todos os números que não deixam resto 4 ao
serem divididos por 5.

Logo nos sobram os números: 19, 29, 49, 59, 79, 89.
Analisando
as condições, eliminamos os números 19 e 79 porque ao serem divididos
por 3 não deixam resto 2, após eliminamos os números 29, 49 e 89 porque
ao serem divididos por 4 não deixam resto 3. Logo, o número restante é o
59 e este é o número procurado.
Esse
tipo de raciocínio possibilita ao estudante aprimorar sua compreensão
sobre divisibilidade, o que nos leva a recomendar a utilização desse
tipo de problemas no Ensino Fundamental.
Leitor de Mentes
Outra
atividade didática, para os alunos do Ensino Básico, que se utiliza dos
conceitos de congruência para sua compreensão é o Leitor de Mentes.
1. Pense em um número de dois dígitos, (como exemplo, utilizaremos o 95)2. Subtraia deste número a soma dos dígitos do número pensado, (95-14=81)3. Olhe na tabela abaixo o símbolo correspondente ao número encontrado.
Concentre-se no símbolo e clique no quadrado mágico:

Ao clicar no quadrado, aparecerá o símbolo que o aluno visualizou. No exemplo, que é o número 81, aparecerá o símbolo ©.
A explicação para essa atividade está baseada na congruência módulo 9, vejamos:





Exemplo: 95 dividido por 9 tem resto 5;
9+5=14 e 14 dividido por 9 tem resto 5;A diferença 95-14=81 é divisível por 9.
Considerando
um número ab de dois algarismos, que pode ser representado por 10a +b.
Se resto da divisão de ab por 9 é r, temos: ab = 9q + r e 10a + b = 9q +
r.
Então 9a + a + b = 9q + r; o que implica em a + b = 9 (q – a) + rAssim ab ≡ r (mod 9) e a + b ≡r (mod 9) e portanto ab – (a + b) ≡ 0 (mod 9).
Logo,
o resultado sempre é divisível por 9 e, analisando a tabela com os
símbolos, podemos observar que todos os múltiplos de 9, possuem o mesmo
símbolo.
Conclusão
O
experimento de ensino foi avaliado, pelo grupo de pesquisa, como muito
positivo nos seus resultados. Os alunos estiveram, durante o trabalho de
grupo, motivados e interessados na realização das atividades e 70% dos
12 alunos investigados afirmaram que perceberam progresso no estudo de
disciplinas do curso nas quais estavam matriculados, durante a
implementação do experimento.
Os
alunos demonstraram desenvoltura no trabalho em grupo, propiciando um
clima de discussão e troca de idéias, bem como, um ambiente favorável ao
levantamento de dúvidas em todas as atividades propostas, o que é
fundamental para a aplicação de uma metodologia que busca a resolução de
problemas.
Observou-se
que os alunos participantes do experimento encontraram dificuldades
para justificar as atividades propostas, e não identificaram os
conceitos aplicados, os alunos não conseguiram relacionar a teoria com a
prática e, como conseqüência, a solução não foi encontrada.
Os
alunos demonstraram não ter conhecimento de atividades desse tipo e nem
da importância do trabalho com os conceitos referidos para o
desenvolvimento do pensamento aritmético e do quanto esse conhecimento
auxilia os alunos na compreensão de outros conceitos, principalmente na
resolução de problemas. Os doze alunos afirmaram que reconhecem a
importância das mesmas e mostraram–se receptivos a aplicação de uma
metodologia de trabalho em sala de aula, como as desenvolvidas no
experimento didático.
Também
o uso da história da Matemática, além de ser um forte motivador,
auxilia a compreensão da construção dos conceitos e dá suporte para a
organização de aulas mais significativas para os alunos. Todos os
participantes do experimento de ensino declararam que não estão
preparados para utilizar a história na preparação de aulas, o que nos
mostra a importância de investigar situações didáticas com o tema
proposto.
Concordamos
com Lins e Gimenez (1997) que afirmam que um bom trabalho aritmético,
para a prática do professor é: reconhecer a necessidade de uma mudança
curricular que sirva para desenvolver um sentido numérico; integrar
diversos tipos de raciocínios na produção de conjecturas; assumir o
papel dos distintos cálculos, que não se reduzam a obtenção de
resultados, e contribuam para aprimorar processos como planificar,
desenvolver estratégias diferentes, selecionar as mais adequadas;
fomentar uma avaliação que contemple a regulação e o controle constante
do processo de ensino proposto.
Assim,
entendemos que os cursos de Licenciatura em Matemática devem primar por
desenvolver um espaço para a discussão, reflexão e estudo dos conceitos
aritméticos que privilegiem o desenvolvimento de estratégias para a
prática docente, incentivando o estudo da história da Matemática como
recurso didático.
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Fonte: http://www.scielo.org.ve/scielo.php?pid=S1011-22512005000200003&script=sci_arttext
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