Geometria Não Euclideana
O estudo da Geometria Não
Euclidiana não traz mais aos estudantes do que cansaço, vaidade, arrogância
e imbecilidade. O espaço Não Euclidiano é a falsa invenção dos demónios,
que prazenteiramente ocupam os pensamentos obscuros dos Não Euclidianos
com falsos conhecimentos. Os Não Euclidianos, tal como os sofistas, parecem
não se aperceber de que os seus pensamentos passaram a ser obscurecidos pelos
estímulos dos espíritos malignos.
Matthew Ryan (cit in Stewart, 1996)
No início do séc. XIX, emergiu um ponto
de vista audacioso: arquitectar geometrias autoconsistentes que diferissem da de
Euclides
(325 a.C./265 a.C.), em particular no que diz respeito às rectas paralelas.
Segundo Blanché (1978), as novas teorias
alteraram o centro de interesse da geometria especulativa, transportando-o do conteúdo
para a estrutura, da verdade extrínseca das proposições isoladas para a
coerência interna do sistema total.
Afirmações como esta: A soma dos
ângulos internos de um triângulo é igual a 180º, começavam a ser postas
em causa e a merecer alguma atenção.
As ideias principais, destas novas teorias,
foram concebidas independentemente por 3 grandes matemáticos: János
Bolyai (1802/1860), Nikolai
Lobachevskii (1792/1856) e Gauss
(1777/1855).
O pai de János Bolyai, o matemático
Farkas
Bolyai (1775/1856), amigo de Gauss, também trabalhou o axioma das paralelas
de Euclides. Ele próprio aconselhou o filho a não perder tempo com «tão
venenoso problema». Mas em 1823, János Bolyai escreveu ao pai contando «as
maravilhosas descobertas», dizendo que havia criado um novo universo a partir
do nada.
Lobachevskii, em 1826, fez uma palestra
sobre as paralelas e, em 1829, publicou um extenso artigo, o primeiro impresso,
onde apresentava uma alternativa a Euclides. A crítica chamou-lhe Geometria
Imaginária.
Em 1832, János Bolyai publicou o seu
trabalho sobre a Geometria Não Euclidiana. Nessa altura, Gauss escreve a
Farkas Bolyai dizendo-lhe que também ele já havia chegado a resultados
idênticos, mas ainda não os tinha publicado.
A recusa do reconhecimento do trabalho de
Bolyai, por parte de Gauss, levou a que Bolyai vivesse na obscuridade
matemática. O mérito do seu trabalho foi reconhecido após a sua morte.
Também o trabalho de Lobachevskii só foi
reconhecido após a sua morte, morrendo cego e na pobreza.
Apesar de haver indícios de que, também
Gauss se dedicou ao estudo da Geometria Não Euclidiana, este nunca
publicou nenhum dos seus trabalhos com receio da opinião pública.
A descoberta das Geometrias Não
Euclidianas libertou os matemáticos dos esquemas rígidos anteriores
promovendo o aparecimento de inúmeras Geometrias estranhas. A Geometria Não
Euclidiana permaneceu durante várias décadas na penumbra da matemática. A
maiorias dos matemáticos, daquela época, ignoravam-na e a Filosofia Kantiana
recusava-se a levá-la a sério.
O primeiro grande matemático a reconhecer
a sua importância foi Georg
Reimann
(1826/1866), quando desenvolveu a teoria geral das variedades, em 1854,
legitimando, de uma maneira muito clara, não só os vários tipos de Geometrias
Não Euclidianas, mas também as chamadas Geometrias Reimannianas.
A aceitação total da Geometria Não
Euclediana só se estabeleceu após a morte de Reimann.
Segue-se um exemplo de uma velha charada,
que também pode ser resolvida com base na Geometria Não Euclediana:
Geometria com Urso e sem
Urso:
Partindo
de um certo ponto da Terra, um caçador andou 10 Km para Sul, 10 Km para Leste
e 10 Km para Norte, voltando assim ao ponto de partida. Aí encontrou um Urso.
Qual a Cor do Urso?
À primeira vista, podemos pensar que o problema não tem solução e, portanto, o caçador não voltaria ao ponto de partida, como mostra o seguinte esquema:
No entanto, não nos podemos esquecer de
que a Terra não é uma superfície plana, mas curva.
Assim a solução está à vista: Andando
10 Km segundo aquelas 3 direcções perpendiculares, o caçador só voltará ao
ponto de partida se iniciar a sua caminhada no Pólo Norte.
E o Urso? Como a história decorre no Pólo
Norte, só pode ser um Urso Polar e, por isso um urso branco.
Toda a dificuldade em solucionar este
problema passa pelo facto de pensarmos na Geometria sobre um plano. Desde
o século passado, com o aparecimento da Geometria Não Euclediana, surge
uma nova solução para este problema.
Pensemos então que o caçador está no
Pólo Sul e a Terra possui círculos concêntricos, com diferentes comprimentos.
Um desses círculos terá 10 Km de comprimento então, qualquer ponto, situado a
10 km para norte desse círculo, satisfará as condições do problema inicial:
o caçador anda 10 km para
Sul e chega a esse circulo; anda 10 Km para Leste e dá uma volta completa; ao
andar 10 Km para Norte volta ao ponto de partida.
Nesta nova solução está a mais o Urso:
não existem ursos no Pólo Sul. Mas eles também não têm nada a ver com a
Matemática.
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/alice/geometria_ne.htm
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/alice/geometria_ne.htm
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